O contraste

O contraste


IBGE mostra que 72 milhões de brasileiros não têm comida suficiente
Mais de 72 milhões de brasileiros (40% da população do país) estão em situação de insegurança alimentar, ou seja, não têm garantia de acesso à comida em quantidade, qualidade e regularidade suficiente. Cerca de 14 milhões passam fome.

As informações, segundo a Agência Brasil, foram divulgadas nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e fazem parte de uma pesquisa inédita no país sobre segurança alimentar.

De acordo com o estudo, que utiliza os dados da Pesquisa Nacional Domiciliar (PNAD) de 2004, crianças, negros e moradores das regiões Norte e Nordeste do país são os grupos que mais sofrem com restrições na alimentação.

O levantamento indica que 109 milhões de pessoas, cerca de 60% dos brasileiros, vivem em domicílios considerados em condições de segurança alimentar. São residências onde há acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem que para isso sejam comprometidas outras necessidades essenciais, como, por exemplo, saúde e educação.

O estudo também constatou que cerca de 18% da população vivem em condições de insegurança alimentar leve, 14,1% em insegurança alimentar moderada, e 7,7% deles se enquadram na categoria de insegurança alimentar Grave, que é caracterizada pela experiência de fome na família pelo menos uma vez em um período de 90 dias.

A gravidade do problema se expressa tanto pelo grande número de pessoas que convivem com a fome -cerca de 14 milhões de brasileiros- quanto pelo número ainda maior de pessoas, quase 40% da população, que não sabem se terão dinheiro para repor a comida que têm.

Insegurança

Segundo a Agência Brasil, a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Márcia Quintslr, diz que a fome é considerada a mais severa manifestação da insegurança alimentar.

No entanto, o fato de o indivíduo preocupar-se com a falta de dinheiro para adquirir alimento suficiente para os próximos dias, já caracteriza uma condição de insegurança alimentar, que se agrava passando por vários estágios.

De acordo com a técnica, a lógica da evolução do problema é a seguinte: primeiro há a preocupação de que a comida acabe, depois vem a perda da qualidade da alimentação e, por último, uma redução na quantidade, que chega ao extremo quando a privação leva à fome.
Até hoje, os números relacionados à fome no Brasil eram obtidos somente a partir de dados sobre o rendimento familiar e a definição de linhas de pobreza.

O estudo inédito do IBGE permite avaliar diretamente a questão da alimentação com moradores de 140 mil domicílios em todo o país.

O estudo contou com a participação de pesquisadores da Unicamp responsáveis por desenvolver a Escala Brasileira de Medida de Percepção de Segurança Alimentar e Fome (Eiba).

A metodologia foi criada a partir de um modelo americano adaptado à realidade brasileira e testada em Campinas (SP) e Brasília. Levantamentos em escala nacional sobre a segurança alimentar só foram realizados até agora nos Estados Unidos, de acordo com a Agência Brasil.

O foco domiciliar foi utilizado na pesquisa porque o consumo de alimentos é uma prática compartilhada na família. Se uma das pessoas sofre restrição alimentar, isso diz respeito a todos os que convivem sob o mesmo teto.